A menos de uma semana para tarifas dos EUA entrarem em vigor, especialistas apontam estratégias para o Brasil lidar com Trump

Tarifaço: entenda por que Trump é acusado de ‘abuso de poder’ por senadores dos EUA Especialistas em comércio exterior e relações internacionais alerta...

A menos de uma semana para tarifas dos EUA entrarem em vigor, especialistas apontam estratégias para o Brasil lidar com Trump
A menos de uma semana para tarifas dos EUA entrarem em vigor, especialistas apontam estratégias para o Brasil lidar com Trump (Foto: Reprodução)

Tarifaço: entenda por que Trump é acusado de ‘abuso de poder’ por senadores dos EUA Especialistas em comércio exterior e relações internacionais alertam que o Brasil precisará adotar estratégias diplomáticas e econômicas para mitigar os impactos das tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros. Os analistas apontam que o governo deve buscar alternativas de mercado, acionar mecanismos multilaterais e evitar escaladas que possam prejudicar ainda mais a relação bilateral. No dia 9 de julho, Donald Trump enviou uma carta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) onde anunciou taxas de 50% sobre os produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos. Na carta, Trump citou Jair Bolsonaro (PL) e disse que o julgamento do ex-presidente no Supremo Tribunal Federal era “uma vergonha internacional”. Em resposta, Lula tem afirmado que o Brasil não “aceitará ser tutelado por ninguém” e chamou a carta enviada por Trump de ‘chantagem inaceitável’. Alternativas do Brasil ao tarifaço Lia Valls, pesquisadora associada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e professora de Economia da Universidade Estadual do Rio de janeiro (UERJ), avalia que o governo brasileiro está seguindo os caminhos possíveis para a negociação, mas que o contato com o país americanos está “difícil”. “Estratégias de negociação são isso, é você tentar. O governo está tentando pelos canais, até os setores empresariais também que tem interesse, não só os brasileiros, mas os setores empresariais americanos também”, afirmou a pesquisadora. A dificuldade de comunicação tem sido comentada até por Lula. Na última quinta-feira (24), o presidente afirmou que Trump "não quer conversar" sobre as tarifas e que o presidente norte-americano quiser negociar, o Brasil está pronto para fazê-lo. “Não tem mais o que é possível fazer, é sentar na mesa e ver qual é o espaço que existe. A impressão que se tem é que está parecendo que está difícil, são difíceis esses espaços”, disse Valls. Trump e Lula AFP Em entrevista à GloboNews nesta sexta-feira (25), o ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil e advogado especializado em comércio internacional, Welber Barral, disse que Trump tem usado a instabilidade como estratégia de negociação e que o Brasil está em uma “situação muito complexa”. “O Trump tem usado a instabilidade como estratégia de negociação, coloca prazos muito curtos e demandas muito altas sobre a mesa e a partir daí negocia genericamente alguns acessos para que ele possa dizer que teve resultados muito positivos para os Estados Unidos”, disse. Barral aponta ainda que a postura 'personalista' de Trump diante das negociações dificulta antecipar os próximos passos dos Estados Unidos. "As esferas técnicas do Departamento de Estado e do Departamento de Comércio Americano claramente não tem acesso à posição decisória do Trump, que é muito personalista. Então isso dificulta muito anteciparmos os próximos passos dos Estados Unidos para saber qual seria uma negociação possível". O ex-secretário também avalia que, na melhor das hipóteses, acordos genéricos serão fechados entre Brasil e Estados Unidos, assim como aconteceu com o Japão. Mas, para o especialista, é necessário que os negociadores tenham cuidado com os detalhes do acordo. Novos mercados Uma possibilidade apontada é a busca por novos mercados. No entanto, a medida, segundo Valls, não acontece “do dia para a noite”. A medida, no entanto, pode apresentar dificuldades. A professora destaca que alguns dos produtos que o Brasil exporta são específicos para multinacionais americanas, o que pode ‘complicar’ a situação brasileira. “Se vai cortar, se vai perder o mercado americano, você vai procurar diversificar, agora nem todos os produtos você consegue facilmente diversificar. Tem produtos mais nessa área de manufatura que que estão dentro das próprias cadeias de produção das empresas multinacionais americanas é mais complicado”, disse a pesquisadora. Lei da Reciprocidade Desde o anúncio, o governo brasileiro tem estudado medidas de como responder e formas de negociar a diminuição das tarifas. Um dos caminhos apontados por Lula é responder ao aumento de tarifas com base na Lei da Reciprocidade Econômica. Ao falar sobre a possibilidade do Brasil retaliar, Lia Valls afirma que a medida pode acabar prejudicando o Brasil. “Para o Brasil é complicado fazer isso, acho que eles falam, mas ninguém tá pensando seriamente. Primeiro que a participação do Brasil nas importações americanas é muito pequena. Quem acabava sendo mais prejudicado seria o próprio Brasil”, avaliou. O decreto que regulamenta a Lei da Reciprocidade foi publicado por Lula no dia 15 de julho. A lei foi aprovada pelo Congresso Nacional em abril deste ano. Antes da lei, não havia um arcabouço que permitisse ao governo retaliar outro país por medidas dessa natureza — somente recurso à Organização Mundial do Comércio (OMC). No documento, foram estabelecidos procedimentos para que o Brasil possa suspender "concessões comerciais, de investimentos e obrigações relativas a direitos de propriedade intelectual em resposta a ações unilaterais de países ou blocos econômicos que afetem negativamente a sua competitividade internacional".